História do Movimento Reformado
- Igreja Batista Reformada
- 10 de out. de 2022
- 1 min de leitura

História do Movimento Reformado
A segunda manifestação da Reforma Protestante ocorreu na Confederação Suíça, sob a liderança de Ulrico Zuínglio (Zurique) e João Calvino (Genebra). Desde o início, a Reforma Suíça ficou conhecida como “movimento reformado”, de onde provêm expressões como fé reformada, teologia reformada e tradição reformada. Com o passar dos anos, o líder mais destacado desse movimento veio a ser o francês João Calvino, cujo sistema doutrinário ficou conhecido como calvinismo. Os principais herdeiros do calvinismo desenvolveram uma forma de organização eclesiástica conhecida como presbiterianismo.
A assembléia de Westminster
Como foi dito no artigo anterior, o calvinismo inglês atingiu o seu ponto culminante com a realização da Assembléia de Westminster, de 1643 a 1649. As circunstâncias desse grande evento são deveras interessantes. O rei Carlos I reinou simultaneamente sobre a Inglaterra e a Escócia (1625-1649). Embora tivesse sido criado como presbiteriano, ele tornou-se um ferrenho defensor do sistema episcopal, como todos os reis da época, e tentou impor esse sistema à Igreja da Escócia. Os escoceses se rebelaram, assinaram um Pacto Nacional e entraram em guerra contra o rei. Necessitando de recursos para enfrentá-los, Carlos convocou eleições parlamentares na Inglaterra, que resultaram, para sua grande frustração, em um parlamento majoritariamente puritano, ou seja, calvinista. Diante das tentativas de Carlos no sentido de dissolvê-lo, o parlamento também entrou em guerra contra o rei.
Foi nesse contexto de guerra civil que o parlamento inglês convocou a Assembléia de Westminster para reformar a Igreja da Inglaterra (Anglicana). A Assembléia era composta de 121 dos ministros mais cultos e piedosos do país, além de 30 membros do parlamento. Os trabalhos tiveram início no dia 1º de julho de 1643, na majestosa Abadia de Westminster, em Londres. Pouco depois, o parlamento, enfrentando dificuldades na guerra contra o rei, precisou recorrer ao auxílio dos escoceses. Por exigência destes, os dois grupos assinaram um Pacto Solene, mediante o qual a Igreja da Escócia teve o direito de enviar alguns representantes à Assembléia, os quais influenciaram decisivamente o rumo dos trabalhos.
Ao longo de vários anos, esses pastores calvinistas, muitos dos quais presbiterianos, elaboraram de modo paciente e criterioso vários documentos importantes nas áreas doutrinária, litúrgica e administrativa. Esses textos, que ficaram conhecidos como os “Padrões Presbiterianos”, são os seguintes: o Diretório do Culto Público a Deus, a Forma de Governo Eclesiástico e Ordenação, a Confissão de Fé, os Catecismos Maior e Breve e o Saltério. Uma vez concluído pela assembléia, cada documento era enviado ao parlamento para discussão e ratificação. Com a aprovação oficial desses documentos, a Igreja da Inglaterra tornou-se presbiteriana.
Sob a liderança de Oliver Cromwell, as tropas parlamentares derrotaram o rei, que foi executado. Todavia, nos anos seguintes manifestou-se o ponto fraco do calvinismo inglês. Cromwell e o exército, assim como muitos ministros, eram congregacionais. Em 1660, a monarquia foi restaurada sob Carlos II e a Igreja da Inglaterra voltou a ser episcopal. Cerca de dois mil pastores presbiterianos foram expulsos de suas igrejas, seguindo-se um longo período de intolerância e cerceamento. Rejeitados na sua terra de origem, os Padrões Presbiterianos foram calorosamente abraçados pelos escoceses. Através da imigração e do esforço missionário, esses padrões, especialmente os de natureza doutrinária (a Confissão de Fé e os Catecismos), foram levados para a Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Brasil e outros países. Por mais de 350 anos, eles têm sido os principais documentos confessionais aceitos pelos presbiterianos ao redor do mundo.
A difusão do movimento reformado na Confederação Suíça
O reformador Ulrico Zuínglio foi impelido por dois tipos de motivações: humanismo bíblico e fervor patriótico. Quanto ao primeiro elemento, Zuínglio se tornou um grande estudioso das Escrituras nas línguas originais, um notável pregador e expositor bíblico, e um firme defensor da autoridade da Palavra de Deus. Ele entendia que a essência da vida cristã é a conformidade com a vontade de Deus conforme expressa em sua Palavra e que esta deve ser o único fundamento para a fé cristã e o culto cristão. Somente o que a Bíblia ordena ou indica claramente é obrigatório ou permissível (“princípio regulador”). Suas idéias estão contidas nos Sessenta e Sete Artigos que redigiu para o primeiro debate de Zurique (1523), no seu Comentário Sobre a Verdadeira e a Falsa Religião (1525) e em outras obras.
Além de pregador e teólogo, Zuínglio era um patriota e foi, no aspecto político, o mais talentoso dos reformadores. Ele desejava que o evangelho bíblico fosse pregado livremente em todos os treze cantões da confederação suíça e nas regiões adjacentes da Alemanha. Inicialmente, apenas Zurique abraçou a fé reformada. Em seguida, a partir de 1522, houve a adesão gradual de Basiléia, especialmente mediante os esforços do reformador João Ecolampádio (1482-1531). Berna, o maior dos cantões, foi ganha para a reforma em 1528, através de um debate público em que Zuínglio teve papel destacado. O cantão natal de Zuínglio, St. Gallen, também foi ganho, bem como Schaffhausen e Glarus, e as cidades de Constança e Mülhausen, na Alsácia. Outra conquista importante para a fé reformada foi a cidade alemã de Estrasburgo, onde atuaram os reformadores Wolfgang Köpfel ou Capito (1478-1541) e o notável Martin Bucer (1491-1551).
Lamentavelmente, como foi visto no artigo anterior, Lutero e Zuínglio não chegaram a um consenso no que diz respeito à Ceia do Senhor. O primeiro acreditava na presença real ou física de Cristo na Ceia e o segundo interpretava o sacramento de maneira simbólica, comemorativa. Tal divergência enfraqueceu o movimento evangélico mais amplo. Além disso, os velhos cantões rurais de Uri, Schwyz, Unterwalden e Zug, bem como a cidade de Lucerna, rejeitaram a reforma e criaram um forte partido católico. Quando os dois grupos se enfrentaram na segunda batalha de Kappel (11 de outubro de 1531), o próprio Zuínglio foi uma das vítimas fatais. Outra vítima foi a reforma na Suíça alemã, cujo progresso foi permanentemente detido. Zuínglio foi sucedido na liderança da Igreja de Zurique por Johann Heinrich Bullinger (1504-1575), líder hábil e conciliador, que, entre outras contribuições, teve participação destacada na redação do Acordo de Zurique (Consensus Tigurinus, 1549) e nas chamadas Confissões Helvéticas.
A filiação da cidade de Berna ao protestantismo reformado foi da mais alta relevância. Esse fato salvou o zuinglianismo do isolamento na confederação suíça e – o que é mais importante – contribuiu para a adesão de Genebra à causa reformada, livrando-a do domínio dos duques católicos de Savóia. Com isso, tornou-se possível a obra do expoente mais ilustre da causa reformada – João Calvino.
A Fé reformada na Inglaterra
A história do movimento reformado na Inglaterra apresenta dois fenômenos com vastas implicações, um deles de caráter negativo e o outro, positivo. No aspecto negativo, a Inglaterra foi o primeiro país em que o calvinismo se dividiu em várias correntes, devido a diferentes entendimentos sobre a forma de governo da Igreja. O elemento positivo foi a realização da Assembléia de Westminster, que produziu os documentos doutrinários mais influentes da tradição reformada.
Até 1534, a Inglaterra foi solidamente católica romana. Naquele ano, o rei Henrique VIII rompeu com Roma e criou uma Igreja nacional inglesa, a Igreja Anglicana. Desde o século 14, com o pré-reformador John Wyclif e seus simpatizantes, os lolardos, havia surgido um forte movimento de valorização das Escrituras e protestos contra os desvios da Igreja Tradicional. Com o advento da Reforma Protestante, as idéias luteranas logo chegaram ao país. Todavia, algum tempo depois a fé reformada obteve maior aceitação.
Durante o reinado de Eduardo VI (1547-1553), filho e sucessor de Henrique, as influências reformadas se fizeram sentir de modo crescente. Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, passou os seus últimos anos na Inglaterra, e o reformador polonês Jan Laski foi pastor da Igreja de Estrangeiros em Londres. João Calvino correspondeu-se com Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária, com o rei Eduardo e com Somerset, o lorde protetor. Dois documentos fundamentais redigidos por Cranmer, o Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos demonstraram claras influências reformadas.
Todavia, a marca mais profunda deixada pelo calvinismo na Inglaterra foi o movimento conhecido como puritanismo. Os puritanos eram os pastores e leigos calvinistas ingleses que insistiam que a Igreja Anglicana se tornasse mais “pura”, isto é, mais bíblica, em sua teologia, culto e forma de governo. Esse movimento produziu um vasto e duradouro impacto na sociedade inglesa devido às suas ênfases principais: estudo sério das Escrituras, pregação doutrinária e expositiva, valorização da experiência religiosa e da santificação, e uma visão abrangente da vida sob o senhorio de Deus.
No reinado de Maria, “a Sanguinária” (1553-1558), houve um vigoroso esforço no sentido de restaurar o catolicismo romano. Centenas de protestantes foram executados na fogueira e muitos outros se refugiaram no continente, em cidades como Zurique e Genebra. Sob Elizabete I (1558-1603) o anglicanismo adquiriu os seus traços definitivos, com a rejeição da teologia reformada. Os puritanos experimentaram uma repressão crescente por parte dessa poderosa rainha e de seus dois sucessores imediatos, Tiago I e Carlos I.
Infelizmente, em meio às tremendas dificuldades que enfrentavam, os puritanos ficaram ainda mais enfraquecidos por causa de sua falta de unanimidade na questão da forma de governo eclesiástico. Enquanto muitos deles eram presbiterianos, outros eram adeptos do sistema congregacional e alguns poucos queriam preservar o episcopalismo. O puritanismo atingiu o seu ponto culminante na década de 1640, quando os puritanos controlaram o parlamento inglês e convocaram a célebre Assembléia de Westminster.
A igreja reformada da França
Uma das características do movimento reformado ou calvinista do século XVI foi a sua rápida e ampla difusão em muitas partes da Europa. Um dos primeiros países atingidos foi a França, a pátria de João Calvino e vizinha da Suíça, o berço do movimento. O precursor da Reforma Protestante na França foi o humanista Jacques Lefèvre D’Étaples (c. 1455-1536), que deu ênfase à autoridade das Escrituras e a outros conceitos abraçados pelos protestantes. O movimento reformado francês surgiu na década de 1530, mas as primeiras congregações foram dispersas pela repressão religiosa. O rei Francisco I (1515-1547) e seu filho Henrique II (1547-1559) perseguiram duramente os reformados. Como já foi visto, ao publicar asInstitutas em 1536, Calvino incluiu um prefácio em que apelava a Francisco I por tolerância para com os evangélicos.
Em 1555, foi organizada em Paris a primeira igreja reformada e nos anos seguintes muitas outras surgiram no interior do país. Isso possibilitou que, em 1559, se reunisse nas proximidades da capital francesa o primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França, representando centenas de comunidades. Essa foi a primeira vez em que uma igreja reformada ou presbiteriana organizou-se em âmbito nacional. Esse sínodo aprovou uma importante declaração de fé, a Confissão Galicana, cujo texto básico foi redigido pelo próprio Calvino. No mesmo ano, esse reformador fundou a Academia de Genebra, cujo principal objetivo era formar pastores para as igrejas da França.
As igrejas calvinistas francesas eram compostas de artesãos, comerciantes e até mesmo de algumas famílias nobres, como os Bourbon e os Montmorency. Os reformados franceses, conhecidos como huguenotes, estavam concentrados principalmente no oeste e no sudoeste do país, e recebiam o valioso apoio de Genebra. O crescimento do movimento reformado levou ao surgimento de duas facções político-religiosas: de um lado os huguenotes, tendo como líderes o almirante Gaspard de Coligny, Luís de Condé e Henrique de Navarra; do outro lado, o partido radical católico, concentrado no norte e no leste do país, e liderado pela poderosa família Guise-Lorraine.
Em 1559, o rei Henrique II morreu em uma competição esportiva, sendo sucedido no trono por seus três filhos, que receberam forte influência da mãe, a italiana Catarina de Médicis. Durante o breve reinado de Francisco II (1559-1560), os Guise controlaram o governo. Em 1560, foi descoberta uma conspiração dos Bourbon contra eles e os rebeldes foram barbaramente executados. Quando Carlos IX (1560-1574) tornou-se rei, sendo ainda menor, Catarina assumiu a regência, mostrando-se inicialmente amistosa para com os huguenotes.
Em setembro de 1561, tentando apaziguar os ânimos entre os dois grupos, a Rainha Regente convocou as lideranças católicas e reformadas para um encontro que ficou conhecido como Colóquio de Poissy. A delegação huguenote foi chefiada por Teodoro Beza, pastor auxiliar de Calvino. O objetivo era a busca de um entendimento na área teológica, o que levaria à pacificação no âmbito político. O fracasso desse encontro abriu caminho para as guerras religiosas que atormentaram a França durante várias décadas (1562-1598), dando início a um longo período de provações para as igrejas huguenotes.
PARTE 2
A partir de 1562, a França foi abalada por uma série de guerras entre católicos e protestantes. A primeira delas teve início com o “massacre de Vassy”, em 1º de março, quando soldados do duque Francisco de Guise atacaram um grupo de huguenotes que realizavam um culto em um celeiro, matando cerca de 60 pessoas. Seguiram-se outras duas guerras entre 1567 e 1570.
No meio desse sofrimento, as igrejas reformadas continuavam crescendo em muitas regiões do país, mas esse crescimento gerava intensa preocupação em alguns círculos políticos e religiosos, produzindo novos confrontos. Nos conflitos, geralmente, ocorria o seguinte padrão: os huguenotes costumavam atacar edifícios católicos e destruir objetos sagrados; os católicos reagiam atacando e matando pessoas.
O episódio mais brutal dessas hostilidades foi o massacre do dia de São Bartolomeu. Em 18 de agosto de 1572, realizou-se em Paris o casamento do príncipe protestante Henrique de Navarra com a princesa Margarete de Valois, filha de Catarina de Médicis e irmã do rei Carlos IX. Toda a elite dos huguenotes foi à capital a fim de participar das festividades. No dia 22, o almirante Gaspard de Coligny sofreu um atentado, mas sobreviveu. Os huguenotes ficaram indignados e exigiram providências por parte do governo. Esse evento foi o estopim do massacre. No dia seguinte, o rei, seu irmão Henrique (duque de Anjou), Catarina e seus conselheiros concluíram que os líderes huguenotes deviam ser eliminados.
Na madrugada do domingo 24 de agosto de 1572, sob o comando de Henrique, duque de Guise, as tropas reais assassinaram o almirante Coligny e outros líderes. Estimulados por isso, milicianos e extremistas começaram uma prolongada orgia de saques e matanças, trucidando indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. Logo os massacres se estenderam a outras cidades. Uma estimativa conservadora calcula que houve 3000 vítimas em Paris e outras 8000 no interior do França. O papa Gregório XIII exultou, lançando uma medalha especial e contratando a produção de vários afrescos para comemorar o evento.
Muitos protestantes conseguiram escapar. Alguns se refugiaram nas fortalezas de Sancerre e La Rochelle e milhares fugiram para Genebra, Basiléia, Estrasburgo ou Londres. Infelizmente, muitos outros abjuraram a sua fé. Teodoro Beza observou: “O número de apóstatas é quase impossível de contar”. O massacre do dia de São Bartolomeu deu início a mais uma guerra, a quarta, que só terminou com uma trégua em 1574. Nesse ano, subiu ao trono Henrique III (1574-1589), em cujo reinado houve outras três guerras.
Em 1589, tornou-se rei da França o príncipe protestante Henrique de Navarra, com o título de Henrique IV (1589-1610). Era filho da piedosa calvinista Jeanne D’Albret. Quatro anos depois, Henrique, que era famoso pelas suas vacilações religiosas, converteu-se ao catolicismo para assegurar a posse do trono. Segundo consta, ele teria dito: “Paris vale uma missa”.
A igreja reformada alemã
O movimento reformado teve início, em Zurique, na Suíça alemã. Seria natural que em pouco tempo chegasse ao país vizinho, a Alemanha. Todavia, somente mais tarde isso veio a acontecer, uma das razões para tanto tendo sido a forte presença do luteranismo no Sacro Império Germânico. A Reforma em Estrasburgo, liderada por Martin Butzer (1491-1551), teve relações amistosas com os reformados suíços. O próprio Calvino ali viveu três anos felizes e produtivos (1538-1541). Todavia, em 1548 Butzer (Bucer) foi forçado a deixar a cidade, passando os seus últimos anos de vida na Inglaterra. Após a Paz de Augsburgo, o luteranismo foi solidamente estabelecido em Estrasburgo. Sob a liderança do príncipe Filipe, o território de Hesse, mais ao norte, também recebeu influências reformadas. Em 1529, Lutero e Zuínglio haviam se encontrado no famoso Colóquio de Marburg, no qual concordaram em catorze pontos doutrinários, mas divergiram com relação à Ceia do Senhor. Após a Paz de Augsburgo, as influências reformadas foram igualmente suprimidas.
A região da Alemanha que recebeu maior influxo da fé reformada foi o Palatinado (Pfalz), a nordeste de Estrasburgo, sob a liderança do príncipe Oto Henrique e do seu sucessor, o eleitor Frederico II (1559-1576). Este governante afirmou a Confissão de Augsburgo (luterana), como exigia a Paz de Augusburgo, mas também convidou teólogos reformados para se fixarem no Palatinado. Entre eles estavam Zacarias Ursino e Gaspar Oleviano, os principais autores do Catecismo de Heidelberg (1563). Esse notável documento, que uniu elementos reformados e um luteranismo melanctoniano moderado, tornou-se não só a confissão de fé desse território, mas a mais importante declaração doutrinária da Igreja Reformada Alemã. O catecismo é constituído de 129 perguntas e respostas, cuja seqüência é baseada na epístola aos Romanos. Possui três partes: (a) Nosso pecado e culpa; (b) Nossa redenção e liberdade; (c) Nossa gratidão e obediência. Seu tom caloroso e pessoal, seu caráter bíblico e prático e seu propósito conciliador têm feito dele um documento grandemente apreciado, sendo adotado por muitas igrejas reformadas em diferentes países.
Após a morte de Frederico II, o luteranismo foi restabelecido no Palatinado, mas no reinado de seu filho João Casimir (1583-1592) a fé reformada foi adotada novamente. No século XVII e início do século XVIII, os reformados do Palatinado sofreram intensamente devido a guerras e repressão religiosa. Em 1727, muitos deles foram para a América do Norte, liderados por George Michael Weiss. Em cinco anos, quinze mil refugiados do Palatinado já haviam se estabelecido em vários pontos da Pensilvânia, onde organizaram a sua própria igreja. Na Alemanha, outras comunidades reformadas surgiram em Nassau, Bremen, Wesel, Brandemburgo e diferentes regiões através do país. Em 1817, por ocasião do terceiro centenário da Reforma Protestante, algumas igrejas territoriais luteranas e reformadas formaram confederações, arranjo esse que subsiste até os dias de hoje. Uma das primeiras igrejas protestantes do Brasil foi a Comunidade Evangélica Alemã-Francesa, fundada no Rio de Janeiro em 1827, que uniu conscientemente luteranos e calvinistas em uma só comunidade de fé e adoração.
A igreja reformada na Holanda
Durante boa parte do século XVI, os Países Baixos estiveram sob o poder dos soberanos hapsburgos, primeiro com o imperador alemão Carlos V e, a partir de 1555, com seu filho Filipe II, rei da Espanha. Os esforços em prol de reformas religiosas nessa região haviam surgido ainda nos séculos XIV e XV, com movimentos como os Irmãos da Vida Comum. Tais movimentos tinham uma teologia agostiniana e davam ênfase ao estudo da Bíblia, à vida devocional e à educação. A partir de 1520, surgiram as primeiras influências luteranas e anabatistas, que enfrentaram intensa repressão por parte das autoridades civis e eclesiásticas.
A fé reformada começou a se fazer sentir em 1523, através de contatos do estudioso holandês Hinne Rode com o reformador suíço Ulrico Zuínglio, e no final da década de 1550, já havia se implantado solidamente, principalmente nas regiões de língua francesa ao sul. Muitos neerlandeses foram influenciados por Calvino em Estrasburgo e Genebra e pelo reformador polonês Jan Laski em Emden e Londres. Em 1561, o belga Guido de Brès escreveu uma confissão de fé “para os fiéis que estão dispersos por todos os Países Baixos”. Esse documento, conhecido como Confissão Belga, foi adotado por um sínodo em Antuérpia, em 1566, vindo a se tornar o principal padrão doutrinário dos calvinistas holandeses. Seu autor foi martirizado em 1567.
O primeiro sínodo reformado holandês reuniu-se em Turcoing em 1563, mas os dois primeiros sínodos gerais reuniram-se em Wesel (1568) e Emden (1571), ambos fora das fronteiras do país. Este último foi especialmente importante, porque efetivamente uniu todas as congregações em uma Igreja Nacional, adotando três documentos doutrinários: a Confissão Belga, o Catecismo de Genebra (para as igrejas de idioma francês) e o Catecismo de Heidelberg (para as de língua holandesa). Seguindo o modelo francês, havia quatro níveis administrativos: consistórios locais, classes (presbitérios), sínodos regionais e sínodo nacional.
O nascimento da Igreja Reformada Holandesa coincidiu com um período de intensas lutas entre os neerlandeses e seu soberano, o rei católico espanhol Filipe II. Este havia declarado que preferia morrer cem mortes a ser um rei de hereges. Em 1566, os nacionalistas entraram em guerra contra os espanhóis. No ano seguinte, Filipe enviou o implacável Duque de Alba para destruir a heresia e sufocar a resistência. A ditadura que se seguiu (1567-1573) custou milhares de vidas, mas não conseguiu vencer a rebelião. Sob a liderança de Guilherme de Orange, que abraçou o calvinismo em 1573, o Holanda declarou a sua independência em 26 de julho de 1581. Guilherme foi assassinado por um fanático em 1584, sendo sucedido por seu filho Maurício, que consolidou a independência da nova República.
Em conseqüência das lutas político-religiosas, os Países Baixos se subdividiram em três nações: Bélgica e Luxemburgo (católicas) e Holanda (majoritariamente protestante). Sob o influxo da fé reformada e da recém-conquistada autonomia política, a Holanda se tornou rapidamente uma das nações mais prósperas da Europa, criando um império comercial que se estendeu por todos os continentes. Tornou-se também uma das regiões da Europa marcadas por maior tolerância religiosa, atraindo dissidentes e refugiados de diversos países.
PARTE 2
No início do século XVII, a Igreja Reformada Holandesa foi abalada por grande controvérsia teológica desencadeada pelos ensinos de Tiago Armínio (1560-1609), um pastor e professor da Universidade de Leyden. Afastando-se da posição calvinista clássica acerca da eleição, ele afirmou a cooperação da vontade humana na salvação. Após a sua morte, seus simpatizantes elaboraram um documento básico conhecido como Remonstrância (1610), contendo uma síntese dos “cinco pontos do arminianismo”. Os defensores da posição ortodoxa eram os gomaristas, partidários de Francisco Gomarus, outro professor em Leyden. Os conflitos entre os dois partidos foram tão graves a ponto de temer-se uma guerra civil.
Nesse contexto, o Parlamento convocou o Sínodo de Dort, que se reuniu de novembro de 1618 a maio de 1619 e marcou o triunfo da posição calvinista. Além dos holandeses, esse sínodo contou com a participação de teólogos reformados ingleses e alemães, tendo aprovado os célebres “Cinco Pontos do Calvinismo”, que foram sintetizados nas seguintes expressões: a) Depravação total; b) Eleição incondicional; c) Expiação limitada; d) Graça irresistível ou vocação eficaz; e) Perseverança dos santos. Em inglês, as iniciais dessas expressões formam a palavra “tulip”; daí serem os cinco pontos conhecidos como a “Tulipa do Calvinismo”. Apesar de derrotados, os arminianos eventualmente tiveram permissão para organizar a sua própria Igreja. Sua teologia haveria de exercer forte influência em outros países, como a Inglaterra de João Wesley.
Ao longo do século XVII, a Holanda experimentou um grande florescimento da teologia e da filosofia. Grandes universidades como as de Leyden e Utrecht se tornaram centros de erudição calvinista, atraindo estudantes de toda a Europa. Dois teólogos destacados desse período foram Johannes Cocceius (†1669) e Gisbertus Voetius (†1676). Outra área de vitalidade foi a arte, na qual se notabilizou o grande pintor Rembrandt van Rijn (†1669). A jovem República também prosperou economicamente e estendeu a sua influência política e comercial a várias partes do mundo. Entre as regiões colonizadas pelos neerlandeses, naquele século, estiveram o Nordeste do Brasil (1630-1654) e a Indonésia. Nesta última, viveu João Ferreira de Almeida (1628-1691), que fez a primeira tradução da Bíblia completa para o português. Almeida foi pastor de uma grande congregação de língua portuguesa naquela colônia, filiada à Igreja Reformada Holandesa.
Nos séculos seguintes, o movimento reformado holandês sofreu o impacto de diversos fatores nas áreas política (guerras, relações internacionais), intelectual (escolasticismo, Iluminismo) e religiosa (pietismo, liberalismo, avivamentos). No século XIX, ocorreram dois cismas que resultaram no surgimento de novas denominações. Uma figura importante foi o pastor, teólogo e político Abraham Kuyper (1837-1920), líder da nova Igreja Reformada (Gereformeerde Kerk), fundador da Universidade Livre de Amsterdã e primeiro-ministro da Holanda de 1901 a 1905. Apesar de muitas vicissitudes, os reformados holandeses continuam dando importantes contribuições ao seu país e a outras nações ao redor do mundo.
As igrejas reformadas do leste europeu
A obra teológica, a liderança e os contatos de João Calvino contribuíram para a grande difusão da Reforma Suíça na Europa do século 16. Uma das regiões atingidas foi o leste do continente, principalmente em países que se ressentiam de interferências germânicas. As influências reformadas alcançaram a Polônia ainda durante a vida de Calvino. O rei Sigismundo II (1548-1572) correspondeu-se com esse reformador e leu as Institutas com admiração. O maior líder do protestantismo polonês foi o calvinista Jan Laski (1499-1560), que pastoreou igrejas de refugiados em Emden (Holanda) e Londres. Sua obra Forma e Método Integral do Culto na Igreja dos Estrangeiros (1550) foi muito influente. Ele voltou para a Polônia em 1556 a fim de organizar as igrejas reformadas, mas teve êxito limitado. Participou da tradução da Bíblia para o polonês, publicada em 1563. O movimento reformado experimentou grande crescimento, mas a Contra-Reforma, mediante a ação dos jesuítas e dos reis, suprimiu o protestantismo polonês. Após vários séculos de vicissitudes, existe hoje na Polônia uma pequenina Igreja Reformada Evangélica, que em 1965, sob o regime comunista, tinha apenas 4.900 membros batizados, 6 pastores e 45 presbíteros. Na Boêmia (Tchecoslováquia), a Reforma Protestante se beneficiou da obra do pré-reformador Jan Hus (1369-1415) e seus sucessores. A maior parte dos hussitas se tornaram luteranos, mas a fé reformada se fez presente a partir da década de 1540. Os conflitos políticos e religiosos desse país foram o estopim da horrenda Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Apesar das grandes dificuldades passadas e recentes, até hoje existe nessa região uma comunidade reformada, representada por duas denominações: a Igreja Evangélica dos Irmãos Tchecos e a Igreja Reformada da Eslováquia. Na Hungria, o luteranismo foi passível de pena de morte a partir de 1523, uma evidência de sua presença antiga naquele país. Todavia, a sua associação com os dominadores políticos alemães dificultou o seu crescimento. A fé reformada não sofria essa limitação e assim foi prontamente aceita pelos setores nacionalistas. Estevão Bocskay, um patriota que libertou o seu povo dos turcos e do Sacro Império Germânico, era calvinista, e sua obra é lembrada no monumento da Reforma, em Genebra. A comunidade reformada húngara criou um sistema de governo que incluía bispos; porém, estes possuíam um status superior somente de jurisdição, não de ordem. Em 1970, a Igreja Reformada da Hungria contava com aproximadamente um milhão e meio de membros, 2.200 igrejas e congregações, 1.358 pastores e 18.000 presbíteros. Durante muitos anos existiu em São Paulo uma igreja reformada húngara. Por causa da proximidade com a Hungria e a presença de imigrantes desse país, a Romênia, mais especificamente a região da Transilvânia, também veio a ter uma grande comunidade reformada. Em 1963, a Igreja Reformada da Romênia tinha quase 700 mil membros, 740 igrejas, 738 pastores e 11.800 presbíteros. Alguns outros países do leste europeu têm ainda hoje pequenas igrejas reformadas. São eles a Ucrânia (na região dos montes Cárpatos, no sudeste do país), a antiga Iugoslávia, a Lituânia e a Letônia.
Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul
A tradição reformada chegou ao Canadá no século 18, principalmente através de imigrantes escoceses e irlandeses. O primeiro presbitério foi criado em 1795 e o primeiro sínodo em 1817. Os presbiterianos representavam todas as divisões que existiam na Escócia, mas em 1875 quatro grupos se uniram para formar a Igreja Presbiteriana do Canadá. Em 1925, essa denominação uniu-se aos congregacionais e aos metodistas, surgindo a Igreja Unida do Canadá. A minoria presbiteriana continuou a existir com o antigo nome, tendo igrejas nas regiões mais populosas do país. Em 1990 a Igreja Unida contava com 3.093.000 membros e os presbiterianos com 237.000. Outro grupo significativo era a Igreja Cristã Reformada da América do Norte, de origem holandesa, com 82.000 membros.
Na Austrália, cuja colonização começou no final do século 18, o grande influxo de imigrantes escoceses e o apoio das igrejas presbiterianas da Escócia contribuíram para o surgimento de uma forte igreja. Como ocorreu no Canadá, inicialmente surgiram grupos separados nas diferentes colônias. Houve duas etapas de unificação: a formação da Federação de Igrejas Australianas (1885) e a criação da Igreja Presbiteriana da Austrália (1901), um ano após a união das seis colônias em uma federação nacional. No censo de 1961, 9.3% dos habitantes declararam-se presbiterianos (976.000). Em 1977, metodistas presbiterianos e congregacionais se uniram na Igreja Unida da Austrália, porém a Igreja Presbiteriana continuou a existir separadamente. Em 1990, essas igrejas tinham respectivamente 1.386.000 e 70.000 membros.
Na vizinha Nova Zelândia (Aotearoa), a Igreja Presbiteriana foi formada principalmente pela imigração escocesa, que teve início em 1839. A Igreja Livre da Escócia esteve presente desde o início da colonização e o seu crescimento deveu muito aos esforços de Thomas Burns, que iniciou o seu trabalho missionário em 1848. O presbiterianismo das Ilhas Meridional e Setentrional da Nova Zelândia se uniu em 1901. Em 1945 foi criado um sínodo especial para os nativos maoris. Em 1990 havia 541.000 presbiterianos no país.
A história do movimento reformado na África do Sul é complexa e controvertida. A colonização holandesa teve início em 1652 e o primeiro obreiro regular chegou em 1665. Alguns anos depois, houve a chegada de muitos refugiados franceses (huguenotes). A Igreja Reformada Holandesa original (NGK) dividiu-se no final da década de 1850, surgindo outra Igreja Reformada Holandesa (NHK) e as Igrejas Reformadas da África do Sul (GKSA). Essas denominações criaram igrejas racialmente separadas para os seus convertidos não-brancos (apartheid). Em 1994, outros dois grupos se associaram para formar a Igreja Reformada Unida da África do Sul (URCSA). No século 20, surgiram denominações distintas para africanos (Igreja Reformada Holandesa da África) e indianos (Igreja Reformada da África). Em 1990, os diferentes grupos reformados totalizavam 2.790.000 membros.
A ocupação britânica a partir de 1806 abriu as portas para os colonos escoceses e em 1829 foi fundada a primeira igreja presbiteriana. Atualmente existe um grupo majoritariamente branco – a Igreja Presbiteriana da África do Sul (90.000 membros) e três grupos compostos de negros – a Igreja Presbiteriana da África (927.000), a Igreja Presbiteriana Reformada da África do Sul (52.000) e a Igreja Presbiteriana Evangélica da África do Sul (30.000), as duas últimas constituídas respectivamente das etnias bantu e tsonga.
Primórdios reformados nos Estados Unidos
Um dos eventos mais decisivos para a história do movimento reformado foi a implantação da fé calvinista nos Estados Unidos da América, de onde a mesma se difundiu para muitas outras partes do mundo, inclusive o Brasil. O calvinismo foi levado para a América do Norte por três grupos distintos de europeus: os puritanos ingleses, os reformados continentais e os presbiterianos escoceses-irlandeses.
Os primeiros a chegarem, em 1620, foram os puritanos que fugiam da intolerância religiosa na Inglaterra na época do rei Tiago I. Eles se fixaram na região da Nova Inglaterra, fundando, entre outras, as colônias de Massachusetts e Connecticut. Muitos desses puritanos estavam ligados à Igreja da Inglaterra (Anglicana), mas com o passar do tempo criaram a Igreja Congregacional, com suas congregações locais autônomas. O puritanismo americano manteve-se relativamente estável e dinâmico até meados do século 18, na época do importante avivamento conhecido como Primeiro Grande Despertamento. O líder mais importante desse período foi o notável pastor e teólogo Jonathan Edwards (1703-1758), da cidade de Northampton.
Nas décadas seguintes, a influência do deísmo e do racionalismo marcaram o fim do puritanismo norte-americano. Por volta de 1800, a maior parte das antigas igrejas congregacionais da Nova Inglaterra se tornaram unitárias, abandonando a tradicional crença cristã na Trindade. Nessa época, sob o impacto das mesmas influências, as célebres instituições de ensino fundadas pelos puritanos se secularizaram, principalmente os colégios de Harvard (1636) e Yale (1701). No meio dessas perdas, os congregacionais se esforçaram por manter a sua identidade. Eles foram muito ativos na evangelização da fronteira oeste e, reagindo contra a liberalização de Harvard, criaram o Seminário de Andover (1807), o primeiro dos Estados Unidos. Alguns alunos dessa escola pioneira criaram em 1810 a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, que deu origem ao vigoroso movimento missionário mundial do século 19.
A fé reformada também foi levada às colônias da América do Norte por diferentes grupos da Europa continental que adotavam a forma de governo presbiterial. Os primeiros foram os holandeses, que fundaram Nova Amsterdã (a futura Nova York) em 1623. Eles e seus descendentes organizaram a Igreja Reformada da América (1792) e a Igreja Cristã Reformada (1847). Os huguenotes franceses também foram em grande número para o novo país, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria resultante da revogação do Edito de Nantes, em 1685. Especialmente numerosos e influentes foram os reformados alemães, que emigraram entre 1700 e 1770 e se fixaram principalmente na Pensilvânia, de onde foram para o vale da Virgínia e as Carolinas do Norte e do Sul. A maior parte deles filiou-se à Igreja Reformada dos Estados Unidos (1793). Existe também a pequena Igreja Reformada Húngara da América (1924). A maior parte dessas denominações reformadas adotaram como suas bases doutrinárias a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones do Sínodo de Dort. Com o passar dos anos, muitos desses imigrantes e seus descendentes ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América.
Organismos reformados internacionais
Como foi mostrado em artigos anteriores, o movimento reformado é um fenômeno vasto e diversificado. Igrejas que se identificam como herdeiras da Reforma Suíça ou Calvinista estão presentes em todos os continentes e somam algumas dezenas de milhões de membros ao redor do mundo. Muitas dessas denominações adotam o nome de reformadas, outras qualificam-se como presbiterianas ou congregacionais, e ainda outras tem nomes que não sugerem uma conexão clara com a fé reformada. Por alguma razão, muitos indivíduos e igrejas querem ser reconhecidos como reformados, mesmo que tenham se afastado significativamente de aspectos fundamentais dessa tradição. Da maneira como esse termo é usado na atualidade, tem-se a impressão de que “reformado” é quase que sinônimo de “protestante”, tamanha a variedade de posições teológicas e institucionais que o termo abrange.
A partir do final do século 19, as igrejas reformadas começaram a se associar em organismos, visando promover maior aproximação e cooperação em diferentes áreas. A primeira dessas entidades foi fundada em 1875, em Londres, com o quilométrico título de “Alianças das igrejas reformadas em todo o mundo que adotam o sistema presbiteriano”. Em 1970, essa Aliança fundiu-se com o Concílio Congregacional Internacional, dando origem à Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (World Alliance of Reformed Churches – WARC). Suas principais atividades concentram-se nas áreas de ação social, consultas teológicas e diálogo ecumênico. Teologicamente, tem uma linha aberta e inclusivista. Publica o periódico The Reformed World (O Mundo Reformado).
Em 1946, foi criado o Sínodo Ecumênico Reformado, hoje Concílio Ecumênico Reformado (Reformed Ecumenical Council), que dá grande ênfase à “integridade confessional” e é composto de igrejas não filiadas à Aliança Mundial. Compõe-se de cerca de 30 igrejas reformadas e presbiterianas de 20 países e tem a sua sede em Grand Rapids, Michigan, nos Estados Unidos. Em 1982, por iniciativa da Igreja Reformada da Holanda (Libertada) foi fundada a Conferência Internacional de Igrejas Reformadas, composta de igrejas mais conservadoras.
Mais recentemente, em 1994, a Igreja Presbiteriana da América (PCA), a Igreja Presbiteriana do Brasil e a Igreja Nacional Presbiteriana do México criaram a Fraternidade Mundial de Igrejas Reformadas (World Fellowship of Reformed Churches). No mesmo ano, foi fundada a Fraternidade Reformada Internacional, constituída de líderes reformados de diversos países da Ásia. No ano 2000, esses dois organismos se uniram, constituindo a Fraternidade Reformada Mundial (World Reformed Fellowship – WRF), que congrega não somente igrejas, mas outras instituições.
A orientação da WRF é evangélica e expressa um forte compromisso com as confissões históricas da tradição reformado. A sucursal regional da Fraternidade Reformada Mundial para a América Latina é a Confraternidade Latino-Americana de Igrejas Reformadas (CLIR), com sede na Costa Rica, que publica o boletim teológico Reforma Siglo 21. Essas diferentes organizações expressam uma tensão que sempre estará presente no movimento reformado: de um lado, a busca de comunhão e fraternidade cristã entre as igrejas; de outro lado, o imperativo da fidelidade e integridade bíblica e teológica.
Comentários