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TEOLOGIA PACTUAL BATISTA PARTICULAR


Teologia Pactual Batista Particular

Por Samuel Renihan


Os batistas particulares surgiram a partir do movimento puritano inglês nas congregações e universidades da Inglaterra. Vários dos primeiros batistas particulares da primeira geração chegaram a Cambridge e Oxford e começaram suas carreiras ministeriais como sacerdotes na Igreja da Inglaterra. Era comum entre os batistas particulares que ministros leigos estudassem e pregassem a teologia reformada. Para eles, uma aplicação consistente da teologia reformada produziria conclusões congregacionais e batistas. Esse foi o caso com a sua teologia pactual, que se desenvolveu dentro da unidade e diversidade dos ramos maiores da árvore genealógica da teologia reformada.

O coração da teologia pactual reformada é a distinção substancial entre a lei e o evangelho. Esta distinção fundamental foi a base para as expressões mais desenvolvidas das alianças legal e evangélica, ou o Pacto de Obras e o Pacto da Graça. A teologia pactual dos batistas particulares se juntou à unidade lei-evangelho relativa à condenação em Adão e à salvação em Cristo. Eles ensinaram claramente as doutrinas do Pacto de Obras e da Graça.[1]

A Confissão de Fé Batista de Londres (1689) confessa o Pacto de Obras, embora desloque seus detalhes do capítulo 7 para o capítulo 6.,

Deus criou o homem justo e perfeito, e lhe deu uma lei justa, que seria para a vida se ele a tivesse guardado, ou para morte, se a desobedecesse (CFB1689 6.1, itálicos adicionados).

Mais tarde, no mesmo capítulo, a Confissão descreve a representação federal de Adão. Ele foi “o representante de toda humanidade” a qual foi “imputada” sua culpa e a “corrupção natural”. O capítulo 7 identifica especificamente a “lei para a vida” do capítulo 6 como uma aliança. Na verdade, afirma que a “lei para a vida” só pode ser uma aliança.

A distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora as criaturas racionais Lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus, que Ele Se agrada em expressar por meio de aliança (CFB1689 7.1, itálicos adicionados).

Os batistas particulares se juntaram à unidade da teologia pactual reformada não apenas em relação ao Pacto de Obras, mas também ao Pacto da Graça. A salvação em Cristo é somente pela graça através da fé nele somente em todos os tempos. Os eleitos, dados a Cristo no Pacto da Redenção, recebem os seus benefícios no Pacto da Graça (veja CFB1689 7.2-3).

Os distintivos batistas particulares da teologia pactual derivam da diversidade já presente no pensamento pedobatista. Um grande ramo dentro da árvore genealógica reformada ensinou que o pacto mosaico é o Pacto de Obras em substância. Um ramo semelhante, mas distinto, viu o pacto mosaico como uma aliança de obras, embora distinta do Pacto de Obras original. Ambos os ramos atribuíram uma função subserviente ao pacto mosaico no que diz respeito a promover o progresso e a revelação do Pacto da Graça. Um terceiro ramo argumentou que o Pacto de Obras foi materialmente “divulgado”, “declarado” ou “revelado” a Israel, embora não tenha formalmente sido “feito” com eles. O pacto mosaico não era uma aliança de obras em substância. A característica distintiva da teologia pactual batista particular foi aplicar essas ferramentas hermenêuticas ao pacto abraâmico, e então concluíram que ele era uma aliança legal, terrena, nacional e tipológica.

Usando a substância lógica da teologia reformada (lei-evangelho), os batistas particulares argumentaram que, para desfrutar as bênçãos do pacto abraâmico é preciso obedecer a uma lei positiva, a circuncisão. A desobediência acarretaria em perda da herança. Nehemiah Coxe disse: “Deparamo-nos primeiro com uma prescrição explícita de obediência ao mandamento (de uma lei positiva) como condição de participação na aliança”.[2] Essa é a natureza de um pacto de obras.

Com base nesse fundamento, batistas particulares imediatamente conectaram o pacto abraâmico ao pacto mosaico. Coxe disse:

Nesse modo de transação [pactual], o Senhor se agradou de traçar as primeiras linhas daquela forma de relacionamento pactual na qual a descendência natural de Abraão foi completamente estabelecida pela lei de Moisés, que era um pacto de obras com suas condições ou termos, “faça isso e viva”.[3]

A tradição reformada já fazia esse argumento em relação a Moisés. Os batistas apontaram que o mesmo arranjo (obediência para bênção) já estava presente com as mesmas partes (Abraão e seus descendentes) e os mesmos mandamentos (leis positivas) muito antes da ampliação da lei. O período de tempo e a diferença na quantidade das leis foram o resultado da aliança dada ao povo nômade no deserto em contraste em contraste com um povo prestes a entrar em um reino completo.

Os batistas particulares argumentaram que a Bíblia atribuí a Abraão uma descendência terrena e uma descendência celestial, e elas pertenciam a duas alianças diferentes, uma aliança terrena segundo a carne e uma aliança celestial segundo o Espírito. Eles argumentaram que essa era a exegese intracanônica, a interpretação que a Bíblia fazia de si mesma — e fizeram ao comparar Gálatas 3-4 e Gênesis 17. Para os batistas particulares, o modelo pedobatista confundia as duas descendências distintas em uma única aliança e impunha o modelo nacional típico de Israel de baixo [“escravo”] sobre o modelo transnacional antitípico da igreja celestial [“livre”].[4]

Era importante para os batistas particulares manter uma estreita ligação entre a Antiga Aliança e o Pacto da Graça. Embora fossem distintas, não deveriam ser divididas. A(s) antiga(s) aliança(s) eram subordinadas ao Pacto da Graça e administrava seus benefícios através de tipologia. Mas, por si só, essas alianças não concederam as bênçãos celestiais. “Apesar da relação que essa aliança da circuncisão tem com o Pacto da Graça, eles continuam sendo distintos. Aquela não pode conceder nada senão bênçãos externas e tipológicas à descendência tipológica.”.[5] O Pacto da Graça foi materialmente conhecida na Antiga Aliança, mas não foi feito formalmente até que Cristo derramasse o seu sangue. O povo celestial de Deus começou no Jardim do Éden e se estendeu ao longo de todas as eras. O povo terreno de Deus começou com Abraão e terminou com a cruz.

Onde a teologia pactual reformada era unânime, os batistas particulares estavam unidos com eles. Onde a teologia pactual reformada era diversa, os batistas particulares conviveram dentro dessa diversidade.


Publicado originalmente sob o título, Particular Baptist Covenant Theology, no blog Founders Ministries. Tradução: Marcia Freitas Revisão: William Teixeira


Notas [1] O Pacto de Obras não ocupa um lugar proeminente nas obras dos batistas particulares sobre a teologia pactual devido à natureza polêmica de seus escritos aliancistas. Esse não era um ponto de debate. Quando surge em seus escritos, ele é tratado como um consenso. Não conheço nenhum batista particular que tenha negado o Pacto de Obras seja em nome ou conceito, embora eu tenha conhecimento de pelo menos vinte e três ocorrências individuais em que é tratado do Pacto de Obras na literatura batista particular do século XVII (ou seja, autores individuais). Além dessas ocorrências, há muitos mais falando de Adão como uma “pessoa pública”, ou seja, cabeça federal. [2] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants That God made with Men before the Law [Um discurso acerca dos pactos que Deus com o homem antes da lei] (Londres: J[ohn] D[arby], 1681), 104. [3] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants, 104. [4] Nota de tradução: A distinção que Samuel Renihan busca traçar aqui, tem por modelo a mesma distinção traçada por Paulo Gálatas 4:22-31: 22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. 23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. 24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. 25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. 26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós. 27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido. 28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque. 29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora. 30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre. 31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre. [5] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants, 109.

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